Brigitte Bardot será sepultada no cemitério marítimo de Saint-Tropez, no sul da França, segundo informações da AFP. A agência afirmou que o anúncio foi feito por autoridades locais. Mas a fundação da atriz ainda não confirmou a informação.
Os dados divulgados pela Fundação Brigitte Bardot afirmam apenas que o funeral será realizado em uma igreja em Saint-Tropez, em 7 de janeiro, seguido por um enterro “privado” na cidade da Riviera Francesa. A atriz havia expressado o desejo de “descansar” no jardim de sua mansão à beira-mar, em Saint-Tropez.
Construído no final do século XVIII, o cemitério está voltado para o mar e tem vista para o Mar Mediterrâneo, em meio a hortênsias e tamariscos. O local abriga túmulos de personalidades como os pintores Paul Signac, Henri Manguin e André Dunoyer de Ségonzac.
Brigitte Bardot foi hospitalizada em outubro deste ano em Toulon para passar por uma cirurgia, mas teve alta no mesmo mês.
Nascida em 28 de setembro de 1934, em Paris, ela se tornou, ainda jovem, uma das figuras mais reconhecidas do cinema mundial.
Seu papel em “E Deus Criou a Mulher” (1956), dirigido por seu então marido Roger Vadim, a consagrou como um símbolo de sensualidade e liberdade que ajudou a moldar a cultura pop da década de 1960.
No longa-metragem, a atriz dança mambo descalça, com o cabelo solto sobre uma mesa e com a saia aberta até a cintura, cena que provocou escândalo na época.
O filme chegou a ser censurado em Hollywood, mas consolidou Bardot como símbolo sexual.
Foi nesse período que a atriz passou a influenciar não apenas o cinema, mas também a moda e o comportamento. O cabelo loiro platinado, propositalmente desalinhado, e o delineado preto marcante nos olhos se tornaram sua assinatura estética, copiada por mulheres em diferentes países.
Ao longo de sua carreira, Bardot estrelou cerca de 50 filmes e também teve atuação como cantora e modelo, tornando-se uma das artistas mais fotografadas e comentadas de sua geração.
Nos anos 1960, consolidou seu prestígio artístico com atuações em dois clássicos: “A Verdade” (1960), de Henri-Georges Clouzot, e “O Desprezo” (1963), de Jean-Luc Godard.
Também participou de produções como “Viva Maria!” (1965), de Louis Malle, ao lado de Jeanne Moreau, “O Repouso do Guerreiro” (1964), novamente com Vadim, e “As Petroleiras” (1971), em que contracenou com Claudia Cardinale.
Bardot nasceu em uma família burguesa e teve uma formação artística precoce. Aos 13 anos, iniciou os estudos de balé clássico e, aos 15, passou a trabalhar como modelo — trajetória que abriu caminho para sua entrada no cinema.
Irreverência, música e ativismo
A persona pública de Brigitte Bardot extrapolava a arte.
Desde cedo, ela chamou atenção por desafiar convenções sociais: apareceu de biquíni no Festival de Cannes em 1953 e, anos depois, compareceu ao Palácio do Eliseu usando calças, em um período em que mulheres eram esperadas em saias ou vestidos em eventos oficiais.
A atriz teve quatro maridos: Roger Vadim, Jacques Charrier, o milionário Gunter Sachs e o industrial Bernard d’Ormale, seu companheiro até os últimos dias.
Ela também se envolveu com atores como Jean-Louis Trintignant e Sami Frey; e músicos como Gilbert Bécaud, Serge Gainsbourg e Sacha Distel.
Essa sucessão de relacionamentos, vivida sem discrição e sem pedido de desculpas, contribuiu para que Bardot fosse vista como símbolo de autonomia feminina em plena revolução sexual.
Em 1967, Bardot iniciou uma carreira paralela como cantora, com relativo sucesso. Em parceria com Serge Gainsbourg, gravou músicas que se tornaram populares na França, como “Harley Davidson” e “Bonnie and Clyde”.
“Tenho muito orgulho da primeira parte da minha vida, que foi um sucesso e que agora me permite ter uma fama mundial, que me ajuda muito na proteção dos animais”, declarou a artista, em 2024, à agência de notícias France Presse.
Ao ser questionada em outra ocasião sobre que atriz poderia interpretá-la em um filme, foi direta: “Nenhuma. Não há uma capaz de fazê-lo”. E acrescentou: “O que falta? Minha personalidade”.
Vida pessoal sob os holofotes
Sua vida pessoal foi intensamente acompanhada pela imprensa e se tornou parte central de sua imagem pública.
Perseguida por centenas de fotógrafos, Bardot perdeu a totalmente a sua privacidade, inclusive durante o parto de seu filho, em 1960.
“Associei o nascimento do meu filho a esse trauma”, confessou, ao falar sobre a relação com seu único filho, Nicolas, criado pelo pai, o ator Jacques Charrier.
Bardot entregou o filho aos cuidados do pai logo cedo e, mais tarde, afirmou que vivia um quadro de depressão crônica e não estava preparada para as responsabilidades da maternidade.
“Naquela época, eu buscava raízes”, disse em uma entrevista. “E não tinha nenhuma para oferecer.”
Declarações polêmicas
Declarações públicas de Bardot sobre imigração, islamismo e homossexualidade a levaram a uma série de condenações por incitação ao ódio racial.
Entre 1997 e 2008, ela foi multada seis vezes pela Justiça francesa por causa de seus comentários, especialmente os dirigidos à comunidade muçulmana da França, destacou a agência de notícias Reuters.
Em 1992, ela se casou com Bernard d’Ormale, ex-conselheiro da legenda de extrema direita Frente Nacional, e mais tarde passou a apoiar publicamente os sucessivos líderes do partido, Jean-Marie Le Pen e sua filha, Marine Le Pen. Bardot chamou esta última de “a Joana d’Arc do século 21”.
Questionada pelo canal francês BFM TV, em maio de 2025, se ela se considerava um símbolo da revolução sexual, ela respondeu:
Na mesma entrevista, ela foi perguntada sobre com que frequência refletia sobre sua carreira no cinema.
“Eu não penso nisso”, disse, “mas também não rejeito, porque é graças a ela que sou conhecida no mundo inteiro como alguém que defende os animais.”
Em 1964, Brigitte Bardot passou uma temporada no Brasil em busca de anonimato. Após desembarcar no Rio de Janeiro e negociar com a imprensa alguns dias de tranquilidade, seguiu para Armação dos Búzios, então um vilarejo de pescadores sem infraestrutura.
Encantada com o isolamento, permaneceu no local por cerca de três meses e retornou no fim do mesmo ano.
Em sua homenagem, a cidade criou a Orla Bardot e instalou uma estátua da atriz, que se tornou ponto turístico. Apesar disso, Bardot lamentava as transformações do balneário ao longo dos anos.
Foto: AFP
Fonte: Redação g1 – https://g1.globo.com





