“Dias de luta, dias de glória”, uma frase que pode até parecer clichê, quando usada para dizer que na vida nada é possível sem perseverança, mas que para Jane Porfírio Magriotes é mais do que simples palavras, é um lema de vida. Araxaense, triatleta, dentista por formação, mãe, administradora e treinadora, desde cedo encontrou no esporte o norte para seus 53 anos.
Natural de uma família de classe média e bem estruturada, porém sem vínculos com o esporte, o primeiro contato se deu quando Jane tinha seis anos. No início da década 60, a Rua Maria Rita de Aguiar, no centro de Araxá era uma espécie de centro esportivo improvisado. Crianças de todas as ruas da redondeza se juntavam ali para disputar as famosas peladas de futebol. Jane era a única mulher em meio à multidão de garotos eufóricos. Entre eles estavam seu irmão Humberto e seus primos Caio e Marco Túlio Porfírio, que eram seus principais colegas de pelada. Melhor do que Humberto, e comparada ao mesmo nível dos primos, todo mundo queria ser da equipe da garotinha que já tinha desde cedo, enraizada em si, a tendência para os esportes.
Com uma fisiologia favorecida e uma vontade que não media esforços, nem obstáculos, era na escola que Jane tinha a oportunidade de conhecer outras modalidades esportivas como o vôlei, o handebol e o basquete. Vendo o potencial da garota para o esporte, um professor de tênis do Araxá Tênis Club (ATC), chamado Quintino, convidou a garota para uma aula experimental de tênis. Muito criticada por começar a jogar tênis aos 15 anos, idade considerada avançada demais para o esporte, Jane ouviu várias palavras que poderiam desanimá-la. Muitas vezes, ela se via obrigada a correr atrás de patrocínios, dos quais conseguia o apoio para seguir em frente. Mas a resposta para os críticos e para as dificuldades veio três meses depois quando ela se consagrou campeã mineira de tênis de sua categoria, em um torneio em Belo Horizonte.
Nos anos dedicados exclusivamente ao tênis, Jane fez seu nome. Passou por diversas equipes. Foi campeã goiana de primeira e segunda classe, e foi chamada para jogar pelo Estado de Goiás. E logo após disputou os jogos abertos de Santa Catarina, defendendo a cidade de Itajaí, pelo clube do Itamirim. Convidada para jogar pela equipe do Joinville, teve a chance de atuar ao lado de um dos maiores ídolos do tênis brasileiro, Gustavo Kuerten. “Foi o meu auge do tênis. Porque o tênis de Santa Catarina não se compara com o de nenhum Estado. E lá eu consegui ser campeã catarinense de primeira classe. Fui convidada para jogar para o Joinville, foi quando eu joguei com o Guga na mesma equipe, e fomos campeões nos Jogos Abertos de Chapecó. Eu, pela equipe feminina e ele, pela masculina.”
O ano de 1992 começava com o Brasil enfrentando uma crise política generalizada. O país sofria com o primeiro impeachment de um presidente em sua história. A economia perdia força devido à crise, e também afetou Jane, que se via perdendo seus patrocínios. Com sua permanência no tênis em decadência, Jane se atentou a um novo esporte que ganhava força nos Estados Unidos: o mountain bike. Sem pensar muito, decidiu ir até São Paulo, e da capital paulista voltou com uma bicicleta. A atleta, já consagrada no tênis havia mais de 15 anos, teve uma surpresa ao subir na bicicleta pela primeira vez para praticar o mountain bike. “Na primeira vez que eu saí nessa bicicleta eu falei: ‘Meu Deus, eu estava no esporte errado! Meu esporte é isso aqui .’ O mountain bike até hoje é uma paixão da minha vida. Porque envolve muita força física e a natureza.” Adaptar-se ao novo esporte não foi uma tarefa difícil, e logo, Jane se via participando de campeonatos e vencendo as competições. Após disputar um campeonato mundial de mountain bike na Austrália, Jane conseguiu um dos maiores feitos de sua carreira: foi a quarta colocada, a quarta maior biker do mundo.
A emoção de subir no pódio com a bandeira do Brasil foi única, indescritível. Era o ponto chave na carreira da atleta. Mas a vida, muitas vezes, prega peças. Após chegar da Austrália, com a moral lá em cima, Jane decidiu disputar uma prova internacional de mountain bike no Catchus Club, em Campinas (SP). Logo no início da prova aconteceu o que ninguém poderia imaginar. Após o apito da largada, ela se preparava para sair, mas caiu batendo diretamente a cabeça no chão. “Ninguém explica a queda. Nem os técnicos, nem o pessoal da confederação. Dizem que eu tive várias convulsões. Tive traumatismo craniano e fiquei vários dias em coma. Considero o que aconteceu como uma sacudida da vida. Minha vida estava boa demais. Era só viajar, cada dia em um país, cada mês em um lugar. E eu estava ganhando muito. E de repente a vida não é só isso. Após isso, conheci meu marido e tive três filhos. Tudo o que aconteceu me ajudou a despertar o outro lado da minha vida que estava adormecido.”
Após dez anos se dedicando aos três filhos, já aos 41 anos, Jane sentia a necessidade de voltar para o esporte. Após uma conversa com o marido, Cesar Magriotes, concordaram que ela voltaria a competir, desde que não fosse no mountain bike, um esporte que ele considerava perigoso. Foi aí que o triathlon surgiu na vida da atleta. “Eu admirava vários atletas de triathlon. E foi aí que emplaquei, comecei a disputar o esporte e foquei nele. Participava da categoria 40-44. Nessa idade eu ganhei tudo, fui campeã brasileira, pan-americana. No mundial, fiquei entre as dez do mundo em Budapeste, na Hungria. E logo após comecei o cross triathlon, que é o triathlon na terra, e nunca perdi. Fui tetracampeã brasileira, nadando no rio e pedalando no mountain bike.”
Hoje, Jane é uma triatleta consolidada. Administra e é professora em sua escola de tênis, e treina para competições específicas. Um de seus maiores objetivos é ser exemplo para outras pessoas de como o esporte pode transformar vidas. “Eu sou admiradora número um da natureza. Quando pratico esporte na natureza, recarrego minhas energias. O esporte me ajuda tanto no físico quanto no emocional. Todos deveriam praticar para serem mais felizes. Para mim, o esporte é a felicidade de qualquer pessoa.”