Essa nova fase da minha vida, a gravidez, tem me despertado alguns insights e, de repente, me peguei pensando na trajetória do meu corpo que também está em outra vibe agora. Embora considerada pelos padrões uma pessoa “magra”, há um tempo venho lutando para eliminar algumas gordurinhas aqui e ali que vivem me incomodando, ou na verdade, estou apenas seguindo os protocolos de uma sociedade que insiste na teoria que barriga tanquinho, pernas saradas e braços sem balanço formam o corpo desejável, perfeito, ideal pra mim.
Não sei se isso acontece com você, mas toda vez que vejo uma foto antiga, logo penso: “poxa, eu estava magra e achava que estava fora do peso”. Que miopia é essa que nos acompanha? O fato é que vivemos brigados com o nosso corpo, com a nossa aparência, com o nosso cabelo ou seja lá o que for. Nunca estamos satisfeitos o suficiente, porque o nosso olhar, assim como é crítico com os outros, é com a gente também.
E se essa briga interna sem um bebê crescendo dentro de mim já era difícil, as coisas tomaram uma proporção muito maior agora. “Você só pode engordar 1 kg por mês”, “Fulana engordou só o peso do bebê”, “Se engordar demais, nunca mais consegue voltar”. Bem tranquilo para uma mulher escutar e pensar tudo nisso, enquanto ao mesmo tempo tem de se preocupar com todo o universo materno que cai no seu colo como um enxame de abelhas – leia-se com ironia.
Nos olhamos no espelho e de repente nos vemos nu da nossa compaixão, de amor e admiração por um corpo que é tão perfeito que está gerando vida. As celulites logo apareceram, a pele não é a mesma, as estrias, embora todos os cuidados, podem desenhar a pele da noite pro dia e a cinturinha perde sua forma de um jeito tão rápido que assusta. Não entendi nada disso, porque no instagram tudo que vejo são grávidas impecáveis, inclusive, sem barriga no 6º mês de gravidez.
Não sejamos radicais. Não estou pregando uma gestação em que se deve render ao sedentarismo, à gula e a tudo aquilo que é prejudicial à mãe e ao bebê. Estou nesse momento, apenas tentando ser livre, aceitar e amar as mudanças que estão chegando e, que inclusive, estão abrindo uma nova perspectiva de encarar o meu novo eu. Tudo está em processo de transformação, inclusive a minha visão. É preciso treinar o meu olhar a se desviar das mil e uma características diferentes que por hora me desagradam para enxergar a beleza e pureza em ser casa, lar, morada.
Aprendemos a não gostar daquilo que intitulam de feio, grande, pequeno, gordo ou magro demais. São estereótipos enraizados em uma cultura que rotula a beleza há séculos e que não deviam receber um pingo de nossa atenção. Mas está em nós, mesmo que não percebamos. E se desfazer de tudo isso, requer tempo, vontade e coragem.
Não sou mais a menina da foto de anos atrás e, por mais que desejasse aquele corpo novamente, decido e escolho a cada nova mudança, amar os traços incontáveis que esse serzinho cria em mim. Afinal, o meu corpo já não é mais só meu, aqui dentro existe alguém que já me mudou por completo, alguém que é o arco-íris no meio da minha tempestade. O meu corpo agora é todo afeto e merece todo o respeito do mundo, principalmente, da minha parte. Então, me desculpe, meu eu crítico, se todas as minhas imperfeições vão te incomodar, felizmente elas não podem mudar só por isso, é pequeno demais perto de um coraçãozinho que está batendo acelerado aqui dentro.