BRASÍLIA — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu a importância de acordos que sustentem as relações econômicas e políticas entre Brasil e Chile independente dos ocupantes das presidências dos dois países. O petista recebeu o mandatário chileno Gabriel Boric, nesta terça-feira (22), no Palácio do Planalto.
“Temos que pensar: como vai ser o Brasil depois que eu for presidente? Como vai ser o Brasil se a extrema-direita entrar aqui? E se entrar a extrema-direita no Chile? Por isso temos que defender a democracia, o multilateralismo e o livre-comércio”, declarou o presidente brasileiro após reunião com Boric.
“O burocrata é eterno. O mandato presidencial termina. Então, entra outro presidente no Chile e a gente não sabe se essa pessoa vai ter uma boa relação com o Brasil e vice-versa. Por isso é importante que a gente discuta essa necessidade de integração”, completou o petista.
O encontro bilateral ocorrido nesta manhã resultou nas assinaturas de 19 acordos e memorandos entre os países. A conclusão do Corredor Rodoviário Bioceânico para ampliar a integração logística e comercial entre Brasil e Chile é um dos assuntos discutidos na reunião privada entre os presidentes — e com a presença de ministros de Estado brasileiros; entre os presentes estiveram os ministros de Meio Ambiente, Marina Silva, de Relações Exteriores, Mauro Vieira, e da Justiça, Ricardo Lewandowski.
Críticas às políticas de Trump nos Estados Unidos atravessam encontro de Boric e Lula
Após a reunião, o presidente Lula repetiu as críticas que têm feito às políticas econômicas e sociais adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O petista, contudo, ponderou que o Brasil não quer ser obrigado a escolher entre Estados Unidos e China, mas pretende manter relações com as duas potências.
“Os latino-americanos viraram todos inimigos. ‘Vão embora porque os Estados Unidos são dos Estados Unidos’, mas, os latino-americanos não ajudaram a construir [os Estados Unidos]?”, perguntou. “Eu não quero uma guerra fria. Quero ter relações com os Estados Unidos e a China. Não quero ter preferência. Quem tem que ter preferência são os empresários…”, completou.
Boric também adota um discurso parecido com o do presidente Lula e disse que o Chile é contrário à guerra comercial entre as potências mundiais. “O Chile está contra a politização arbitrária do comércio e defendemos com muita força nossa autonomia, tendo relações com diferentes países e regiões”, disse.
Boric é aliado de Lula na América Latina, mas presidentes colecionam divergências políticas
Político de esquerda, Gabriel Boric é um dos principais aliados de Lula na América do Sul. Apesar da boa relação, os dois colecionam divergências públicas em relação a temas da diplomacia internacional, como o regime de Nicolás Maduro na Venezuela.
Boric é crítico do regime venezelano e chegou a cobrar uma posição mais dura dos governos progressistas em relação à violação de direitos humanos naquele país. Por outro lado, Lula teve uma relação amigável com Maduro no início do atual mandato e chegou a recebê-lo em Brasília em 2023.
Já no ano passado, após os indícios de fraude nas eleições venezuelanas que decretaram uma nova reeleição de Maduro, o presidente chileno se manifestou contra o resultado, enquanto Lula preferiu exigir a apresentação das atas antes de dizer se o processo foi legítimo.
Os dois chefes de Estado também divergem em relação à guerra na Ucrânia. Boric é um crítico da atuação russa no conflito, o que classificou como uma “agressão inaceitável” ao território ucraniano, Lula, por outro lado, considera que ambos os países têm igual responsabilidade e defende uma solução negociada, além de manter boa relação com Vladimir Putin.
Entenda o que é o Corredor Bioceânico
O Corredor Bioceânico é um projeto de elaboração de rotas rodoviárias em direção ao Oceano Pacífico. No Mato Grosso do Sul, por exemplo, foram investidos recursos públicos para a construção do acesso à terceira ponte internacional entre Brasil e Paraguai e a recuperação e adequação de 104 quilômetros de pavimento da BR-267/MS.
Quando as ordens de serviço foram assinadas para as intervenções no Estado, ainda em 2023, o representante do Ministério dos Transportes destacou a importância da iniciativa. “Dessa forma, poderemos acessar os melhores canais, valorizar as nossas riquezas”, destacou o ministro interino dos Transportes, George Santoro. De acordo com ele, o objetivo é encontrar soluções para desatar os nós logísticos do país e aumentar a conectividade entre os países da América do Sul.
Foto: Ricardo Stuckert/PR
Fonte: Levy Guimarães e Lara Alves – https://www.otempo.com.br