Em suas idas e vindas do Tennessee para o Alasca, Michael Rogers e sua mulher Christy se viram duas vezes na situação de pagar simultaneamente uma hipoteca e um aluguel. Em 2006, essa situação perdurou por oito meses, até que finalmente conseguiram vender sua casa no Tennessee por US$ 20 mil a menos do que haviam pago por ela.
Outras experiências com compras de imóveis foram bem-sucedidas, já que o casal conseguiu dobrar seu investimento após vender uma casa reformada. Posteriormente, com outra propriedade, tiveram que desembolsar US$ 30 mil para fazer o reparo de um deslizamento de terra que ocorreu ao redor da casa, devido a um erro do construtor.
Há dois anos, os Rogers se mudaram para Kingsport, no nordeste do Tennessee, onde assinaram um contrato de aluguel de um apartamento, acreditando que seria uma solução temporária que duraria um ano até que comprassem outra casa.
O casal acaba de renovar o contrato de aluguel pelo terceiro ano e decidiu continuar sendo inquilino permanentemente. Michael Rogers, gerente de construção, gosta da conveniência de poder se mudar sempre que precisar fazer isso por causa do trabalho.
Seja por escolha ou por preços inacessíveis, muitas pessoas decidiram que alugar para sempre é a melhor – ou única – opção. Os custos de habitação e as taxas de juros aumentaram nos últimos anos e pode fazer sentido financeiramente alugar. (Recentemente, o New York Times atualizou sua popular calculadora de aluguel versus aquisição para ajudar as pessoas a entenderem as vantagens e desvantagens de cada opção.) Na década de 1960, o preço médio das habitações era pouco mais do que o dobro da renda média. Hoje o valor é quase seis vezes maior.
Adquirir uma casa própria é uma estratégia tradicional para a construção de riqueza a longo prazo. Para aqueles que não têm planos de comprar, desenvolver um plano financeiro sólido sem depender do valor da casa exige uma abordagem mental diferente.
Ser proprietário de uma casa não é uma solução mágica para garantir a aposentadoria. Rogers viu como o conceito de ser “rico em casa, pobre em dinheiro” afetou os membros mais velhos de sua família, sendo que um deles tinha 75% de seu patrimônio líquido investido em sua casa. Essa situação deixa as pessoas com a opção de obter um empréstimo usando o patrimônio de sua casa como garantia ou de vender a casa para acessar o seu valor.
Em vez disso, ele está focado em investir, optando pela liquidez e a estabilidade do mercado de ações.
“Quando você compra algo como um índice de ações dos EUA de base ampla, está essencialmente adquirindo uma parte de toda a economia dos EUA”, analisou Rogers. “Quando você compra uma casa, seu risco se concentra literalmente em uma casa, em um bairro, em um estado.”
Rogers descobriu que as pessoas tendem a se concentrar no valor da casa própria em detrimento de outros fatores. Para ele, isso pode ser um erro.
“No mercado atual, especialmente na minha região, o aluguel parece uma absoluta pechincha em comparação com os preços pelos quais as casas estão sendo vendidas no momento”, comentou. “Isso me permite de fato aumentar minha taxa de poupança. As pessoas dizem: ‘Bem, você não está construindo patrimônio’. Sim, mas tenho rendimento de poupança de 35%. Estou construindo contas de investimento muito mais rápido do que jamais construiria patrimônio líquido na casa.”
Opção pelo aluguel
Assim como em qualquer outro mercado, é impossível prever o futuro dos custos com aluguéis. Aluguéis podem tanto diminuir, como ocorreu durante a pandemia em Nova York, ou aumentar, como aconteceu em Seattle, impulsionado pela presença da Amazon. Os preços de habitação poderão desmoronar, como aconteceu durante a Grande Recessão, ou explodir, como aconteceu em São Francisco. A chave é ter um plano que o proteja em diversas situações.
“Alugar pode ser uma decisão financeira melhor; ser proprietário pode ser uma decisão financeira melhor”, disse Ramit Sethi, autor de “Como ficar rico”. “Muitas vezes, compramos uma casa apenas porque nossos pais nos disseram para fazer isso, da mesma forma como os pais deles fizeram.”
Apesar de ser milionário, Sethi optou por alugar nos últimos 20 anos em cidades como São Francisco, Nova York e Los Angeles. Quando morou em Manhattan, ele calculou que comprar um imóvel teria custado 2,2 vezes mais por mês do que alugar. Ele ressalta a importância de considerar os custos ocultos, como juros de hipoteca, impostos e manutenção, que geralmente são estimados em 1% a 3% do valor de uma casa. Então ele alugou e focou em investir. Ele tem preferência por fundos de índice, fundos com datas-alvo e qualquer investimento de longo prazo e baixo custo.
“Se você optar por alugar, há um aspecto fundamental que é o mais importante de todos: você deve avaliar minuciosamente os números”, explicou. “E se for mais econômico alugar do que comprar, você deve investir a diferença.”
Análise dos números
“Me perguntam o tempo todo por que não compro uma casa”, disse Miranda Marquit, que tem cerca de 40 anos de idade e mora em Idaho Falls, Idaho. “As pessoas acham estranho.”
Marquit ganha entre US$ 10.000 e US$ 12.000 por mês e vem construindo uma carteira de investimentos nos últimos 25 anos, além de focar em múltiplas fontes de renda nos últimos 15 anos. Se você está pensando em começar a planejar uma vida financeira de sucesso sem ter uma casa própria, ela sugere começar com as calculadoras de aposentadoria disponíveis no site investor.gov.
“Ao decidir quanto vou investir por mês, adoto uma abordagem muito conservadora e presumo uma taxa de retorno de 6%”, explicou. “Sei que muitas pessoas dirão que você deve presumir uma taxa de retorno muito mais alta, especialmente se estiver investindo em ações, mas gosto de ser cautelosa.”
Você precisará considerar o provável aumento do aluguel ao longo do tempo (Marquit utiliza uma estimativa de 3% com base na inflação) para calcular quanto precisará na aposentadoria.
“Estar preparado para a aposentadoria é uma questão de calcular os números, seja você um locatário, um proprietário com hipoteca ou alguém que está construindo um império de aluguel”, disse. “Pense no que quer fazer na aposentadoria e estime suas necessidades mensais. Depois, determine como atenderá a elas.”
A estratégia exclusiva de aluguel
“Esta é a minha vida”, disse Berna Anat, que vive na região da baía de São Francisco. “Não vejo uma casa própria no meu futuro.”
Quando alguém diz a ela que ela está desperdiçando dinheiro com aluguel, ela pensa nos amigos que são proprietários. “Eles dizem coisas como ‘Epa, não poderemos sair de férias por dois anos, porque os cupins comeram o piso do nosso banheiro’, ou como “Não poderemos sair neste final de semana porque estamos passando argamassa para reformar nossa sala de sol’”, disse ela. “Aluguel para sempre é um movimento. É um estilo de vida.”
Isso tem um custo: o patrimônio teórico que muitos planejam para funcionar como reduto em sua aposentadoria.
Anat, que é autora de “Money Out Loud” (Dinheiro em voz alta, em tradução livre), afirma que substituir o valor da casa própria e viver um estilo de vida de aluguel tem a ver com diversificação e maximização de investimentos. Se você trabalha em tempo integral, analisa, o ideal é investir totalmente em seu 401 (K) e conseguir o máximo possível de contribuições correspondentes do seu empregador. Anat recomenda abrir também outro fundo, como um Roth IRA.
“A ideia é que, se você não está gastando com custos de moradia, custos de fechamento, garantias, impostos sobre propriedade e encargos como taxas de associação de proprietários”, disse ela, “então você está investindo todo esse dinheiro para que sua aposentadoria seja o mais confortável como possível, já que você não terá esse patrimônio.”
“Para mim, como locatária permanente, tenho todas essas coisas e estou investindo da forma mais agressiva como possível”, ponderou.
No curto prazo também é necessário planejar a volatilidade do mundo real, disse Anat. Seu aluguel pode aumentar ou seu prédio pode ser vendido. Ela recomenda um fundo de emergência de pelo menos seis meses e uma planilha que detalhe um plano para o caso de você perder a moradia.
“Se você tivesse que sair de seu apartamento amanhã, qual seria o plano real para seus fundos e sua vida?” questionou. “É quase como se preparar com um plano de fuga no caso de um terremoto.”
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