O encanto que tenho pelo esporte é tão grande, que me levou a praticar várias modalidades esportivas; porém, as que mais gosto sempre foram correr, pedalar ou nadar.
A minha história, como tantas outras, começou quando eu ainda era criança. Tudo como uma grande diversão e sempre com gosto de superação. Aos 12 anos de idade, depois de muito pedir para minha mãe, ela me matriculou nas aulas de natação, nadei até os 15 anos, me lembro que “matava” aula para ir ao Praia Clube fazer o que na minha cabeça era triathlon. Eu nadava, pedalava nas bicicletas ergométricas e depois corria em uma pista, que na época era de areia. Enfim… logo depois me apaixonei também pela ginástica, tive um lindo parêntese aí até os 33 anos, foi demais!
Devido ao crescimento profissional, me afastei das aulas práticas de ginástica, me dediquei aos estudos, ministrei aulas em duas universidades e trabalhei na coordenação de um grande clube da minha cidade na área de fitness. Nesse período me dediquei às corridas de aventura que me trouxeram também uma grande experiência esportiva. Aos 38 anos eu e Fernando Nazário, meu marido, decidimos acreditar em uma metodologia própria: criamos o estúdio Science Fitness Club, e com ele veio nosso mundo nas corridas e principalmente nas corridas de montanha. Como no início de 2017, quando participei de uma prova linda na Serra da Canastra, um lugar maravilhoso. Vieram também alguns pódios que me motivaram ainda mais a permanecer na modalidade. E foi assim, aos 44 anos, que decidi ir atrás de um sonho, um grande sonho que me lembro, ainda pequena, ao ver na televisão verdadeiros heróis. Homens e mulheres de carne e osso, mas que pareciam gigantes e guerreiros de ferro.
A corrida de montanha é outra paixão que jamais deixarei de fazer, principalmente pela integração que me traz junto à natureza.
No dia 26 de julho de 2017, comecei a fazer minha inscrição com as mãos trêmulas e o suor escorrendo; eu não entendia, mas era o início da grande realização do meu sonho esportivo. A partir dessa data minha grande e camuflada paixão desde criança precisava acontecer, não havia mais outro pensamento, eu teria que nadar 3.800m, pedalar 180km e correr 42km de uma dura maratona para me tornar uma ironman. Eu tinha, a partir de agora, 9 meses para colocar em prática tudo o que eu acreditava, eu tinha 9 meses para gerar este sonho. Minha intenção para o ironman era terminar, não almejei tempo, mas desejei descarregar toda a minha força e energia no dia da competição. Estava havia quase 30 anos sem nadar, nunca usei uma sapatilha de bike. Em agosto de 2017, começou a minha “labuta”.
Foram nove meses intensos de dedicação e entrega total. Me matriculei nas aulas de natação, contratei um treinador, meu marido (risos), comprei uma bike de estrada para adaptação e ter melhor destreza antes de passar para a bicicleta específica de triathlon. Alguns tombos leves para me adaptar com a sapatilha e lá se foram vários quilômetros rodados. Confesso que as primeiras vezes que fui para a estrada tive muito medo dos caminhões, mas pude ver na bike uma grande paixão. Quanto mais minhas pernas queimavam nos treinos, mais eu me dedicava. Treinei em águas abertas e achava que ia morrer; de verdade, achava mesmo (risos). Treinei muito, e quanto mais eu treinava, mais eu via o quanto precisava treinar. Nesse período abri mão dos cafés, das mesas de amigos, de beber um bom vinho. Eu abri um novo campo da minha vida, uma nova visão que me traz muita gratidão no coração.
Decidi que nesse período eu precisava viver na pele um pouco do que seria fazer um ironman e compreender o verdadeiro significado da busca. Fiz inscrição em duas provas de meia distância do ironman. Foi uma grande surpresa, consegui uma excelente colocação com três meses de treino na minha primeira prova de triathlon, terminei feliz demais, saí de lá convicta de que estava no caminho certo. Para realizar um ironman eu acredito que o corpo tem que estar extremamente preparado, mas se você não preparar a sua mente, não vai adiantar seu esforço físico. É muito tempo de esforço. É muita superação a todo momento. Eu sempre acreditei no poder da mente, tenho na minha rotina aulas de meditação, e nesse período não foi diferente; me dediquei muito aos trabalhos mentais com leituras, meditações guiadas e aulas de ioga.
É chegado o grande dia, e aquela prova. Noite mal dormida, acordei cedo, meditei, comi, banheiro, roupa de borracha, banheiro novamente, ajustes finais na transição e aquele caminhar até a largada, rumo ao desconhecido. Aquele frio na barriga pertencente aos mortais, aos vivos, aos que não perdem a capacidade de sonhar. “Hoje é um grande dia”, eu pensava, “dia da realização do meu sonho.” Eu tentava de toda as formas me livrar da ansiedade. Ao som da buzina, às 7h15 foi dada a largada! Com empurrões, socos e chutes na natação eu seguia naquela angústia com tempo programado para 1h30mim e consegui sair com 1h15min51seg. A primeira conquista!!! Quanta alegria sair da água rumo ao esporte que eu mais me adaptei, o ciclismo!
Aquele início da bike com muita vontade de fazer força, mas consciente da estratégia que havíamos planejado. Fim do pedal e mais uma vitória. Exatamente como planejamos, os 180km com média de 31,09km/h em 5h47min46seg. Inicio a corrida e minha primeira maratona de rua da vida logo no ironman. Corria com fortes dores na coxa e falava em voz alta: “está muito difícil!”. Naquele momento eu pensei: “normalmente os sonhos são assim”, mas que valeriam a pena! Aos gritos de apoio de amigos e meu marido “FORÇA, VANESSA”, “ATÉ O FIM”, ATÉ O FIM”, “É O SEU SONHO”, continuei lutando.
Assim fui “britanicamente” como treinado, como combinado. Sem andar, passo a passo suportando até o fim. Nos últimos dois mágicos quilômetros tentei aproveitar ao máximo, sentir toda aquela energia; meus olhos estavam cheios de lágrimas, e um filme dos nove meses de treinamento árduo me veio à cabeça. Eu sabia que o fim estava próximo, as pessoas gritavam emocionadas para os corredores e me motivavam mais ainda. Foi de arrepiar. No último quilômetro eu fiquei sem ar, porque estava chegando ao fim. Cruzei a linha de chegada com os braços erguidos e muito emocionada em 11h28min. Eu só agradecia a Deus e falava: “eu consegui, eu consegui, eu consegui, não acredito…!”. Naquele momento meus músculos e articulações que estavam incomodando não doíam mais diante de tanta emoção, porque agora eu me tornava uma ironman.
Eu busco me evoluir a cada dia, tenho buscado de forma incessante a sabedoria divina, me livrar dos julgamentos, inclusive sobre eu mesma. Abri este parêntese para dizer que eu trabalhei corpo, mente e espírito. Acredito que o universo nos mostra que nada é permanente e que somos seres ilimitados, livres de qualquer barreira. Basta acreditar com força e fé. Eu acredito que os anjos me guiaram naquele dia. Senti a presença deles. O grande dia foi maravilhoso, mas todo o processo foi sensacional. Sou extremamente grata a todos que cruzaram meu caminho com sua essencial ajuda nesta incrível jornada.
A corrida de montanha é outra paixão que jamais deixarei de fazer, principalmente pela integração que me traz junto à natureza.