Os Estados e regiões próximos a Israel e Gaza vivenciaram um aumento substancial da tensão nesta quarta-feira (3), um dia após o assassinato de Saleh al-Arouri, o segundo dirigente político do Hamas, em um ataque de drone no sul de Beirute. Devido ao ocorrido na capital libanesa, as forças israelitas elevaram o grau de prontidão, temendo possíveis represálias do Hezbollah, um grupo xiita libanês aliado do Hamas.
As autoridades do Líbano oscilaram entre condenar o ataque e tentar conter a possibilidade de extremistas lançarem um ataque em grande escala contra o país vizinho, agravando ainda mais o conflito. Internamente, a situação em Israel está cada vez mais delicada, com alertas dos EUA indicando que o ataque pode ter prejudicado as perspectivas de negociação com o Hamas para a libertação de reféns.
O que se observa é um aumento do extremismo nas áreas palestinas, com apelos para que os cidadãos de Gaza e Cisjordânia se unam à luta do Hamas.
A ampliação do conflito na região é uma preocupação central para governos envolvidos de forma direta ou indireta na crise do Oriente Médio. Apesar das consequências internacionais já evidentes, como a formação de uma coalizão de defesa contra ataques dos rebeldes Houthis do Iêmen a embarcações no Mar Vermelho, uma declaração de guerra por parte de um Estado árabe, como o Líbano, contra Israel, elevaria o conflito ao patamar de um confronto entre países, não se limitando apenas a uma ação militar contra um grupo terrorista.
Apesar de o primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, ter caracterizado a ação que resultou na morte de al-Arouri como um “novo crime” de Israel, as autoridades libanesas atuam nos bastidores para evitar uma escalada do conflito. O ministro dos Negócios Estrangeiros libanês, Abdallah Bou Habib, afirmou estar em diálogo com o Hezbollah para evitar uma resposta ao ataque.
Líbano e Israel estiveram em conflito em 2006, quando membros do Hezbollah atravessaram a linha divisória e capturaram militares israelenses. Após quase um mês de hostilidades e um número significativo de vítimas, os países chegaram a um cessar-fogo.
Do lado israelita, as principais autoridades não confirmaram diretamente o ataque em Beirute, embora também não tenham negado a responsabilidade. Em um comentário divulgado nas redes sociais das Forças Armadas de Israel, o porta-voz militar Daniel Hagari afirmou que o país está em “um estado muito elevado de preparação” para atacar ou se defender de qualquer ameaça.
Israel definiu como objetivo militar a erradicação do Hamas e o estabelecimento de um novo padrão de segurança durante o conflito, iniciado após o atentado terrorista de 7 de outubro, que, segundo Israel, resultou na morte de 1,2 mil pessoas. Ainda há quase 130 pessoas mantidas como reféns pelo grupo palestino em Gaza.
Após meses de conflito, autoridades militares e políticas indicam que a disputa, que já causou a morte de 22.313 pessoas em Gaza, de acordo com o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas, persistirá por um período considerável.
Obstáculo nas negociações
A Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil) expressou “profunda preocupação” com a escalada de tensões na região e instou à abertura de novos canais diplomáticos. Conforme a porta-voz da iniciativa da ONU, qualquer potencial escalada poderia ter consequências “devastadoras” para as pessoas dos dois lados da Linha Azul, que divide os dois países.