No último mês, o conflito entre Israel e a Faixa de Gaza atraiu a atenção global, levando jornalistas locais e internacionais à região. No entanto, cobrir essa história tornou-se cada vez mais desafiador e perigoso.
Em apenas um mês, 37 profissionais da mídia perderam a vida durante os embates entre Israel e o Hamas, um número que ultrapassa o total registrado em 20 meses de conflito na Ucrânia. Essas perdas incluem 32 jornalistas de origem palestina, quatro de nacionalidade israelense e um do Líbano.
A gravidade da situação é evidente, com mais de uma morte por dia. O Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ) destaca que por trás dessas perdas recordes estão tentativas de censura, ameaças, detenções arbitrárias, ataques a redações e até mesmo o direcionamento de familiares como alvos.
Apesar de a guerra se concentrar em Gaza, a preocupação se estende à Cisjordânia, onde a Associação de Imprensa Estrangeira denunciou a perseguição israelense a repórteres. Eles enfrentam ameaças e impedimentos de acesso a locais no território palestino, mesmo quando credenciados.
O último jornalista morto incluído na lista da CPJ é Mohammed Abu Hatab, ex-funcionário da Palestina TV, financiada pela Autoridade Palestina. Abu Hatab foi morto junto com 11 membros da sua família em um ataque aéreo israelense em sua casa em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza.
“Os que estão em Gaza, em particular, pagaram, e continuam a pagar, um preço sem precedentes, e enfrentam ameaças exponenciais. Muitos perderam colegas, familiares e instalações de mídia e fugiram em busca de segurança quando não há porto ou saída segura”, afirmou Sherif Mansour, coordenador do programa CPJ para o Oriente Médio e Norte da África.
Crimes de guerra
Na semana passada, a ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF) apresentou uma denúncia ao Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes de guerra cometidos contra jornalistas palestinos, em Gaza, e contra um jornalista israelense que cobria o ataque do Hamas às comunidades de Israel. “O documento também faz menção à destruição intencional, total ou parcial, das instalações de mais de 50 meios de comunicação em Gaza”, disse o RSF.
“A escala, a gravidade e a recorrência dos crimes internacionais contra jornalistas, sobretudo em Gaza, exigem uma investigação prioritária por parte do procurador do TPI. Desde 2018 fazemos apelo ao tribunal. Os atuais acontecimentos trágicos demonstram a extrema urgência de sua mobilização”, afirmou Christophe Deloire, secretária-geral da RSF.
Esta é a terceira queixa apresentada pela RSF ao TPI por crimes de guerra cometidos contra jornalistas palestinos na Faixa de Gaza. A primeira queixa foi apresentada em maio de 2018, referente a jornalistas mortos ou feridos durante a Marcha do Grande Retorno, em Gaza. A segunda queixa foi apresentada em maio de 2021, após as forças israelenses bombardearem cerca de 20 meios de comunicação na Faixa de Gaza.