Há cinco anos ele passou por um terrível episódio, quando ia para uma festa com três amigos na estrada para a cidade de Perdizes, a quase 50 quilômetros de Araxá. No caminho, o motorista perdeu o controle da direção e o veículo acabou capotando. De todos os passageiros que estavam no carro, apenas Victor foi quem sofreu uma grande lesão. Ao dar entrada no hospital Santa Casa de Misericórdia de Araxá, momentos após o acidente, Victor foi diagnosticado com paraplegia, pelos médicos. Com o impacto da notícia, era difícil para ele acreditar no que havia acontecido. “Eu conversei com meus pais e com minha família que estavam no hospital, e falei que o médico deveria estar louco, eu não podia estar paraplégico! Mas já em Uberlândia foi onde realmente caiu a ficha de que a vida de caminhar para todo lugar eu não teria mais, que a partir daquele momento eu iria precisar de uma cadeira de rodas”, diz Victor.
O tratamento para a recuperação teve início ali mesmo, por meio de fisioterapias e consultas com psicólogos dentro do hospital. E foi intensificado depois, em Araxá, com idas diárias ao fisioterapeuta. Victor sempre foi um rapaz ativo no mundo dos esportes; desde criança gostava de jogar bola na rua e brincar com os amigos. Na adolescência integrou o time de futebol do Araxá Esporte Clube; ele sonhava ser um grande jogador de futebol. Ainda no hospital em Uberlândia, Victor conheceu histórias de cadeirantes, que eram pessoas ativas na vida, e que mesmo após se acidentarem, continuaram vivendo suas vidas normalmente. Um desses exemplos foi a história do atleta paralímpico e tetracampeão mundial de paracanoagem Fernando Fernandes, que se tornou sua inspiração, pois percebeu ali que também poderia ter uma vida normal e continuar inserido no esporte.
A família sempre esteve ao seu lado, e após o acidente não foi diferente. Procuraram o Hospital Sarah Kubitschek em Brasília onde Victor se tornou mais independente. Se locomover sozinho, sair da cadeira para dentro de um carro e subir e descer o meio-fio foram algumas das coisas que aprendeu no hospital. Foi apresentado a vários esportes, como tênis de mesa, basquete e natação. Mas por ter o Fernando Fernandes como ídolo, ele optou pela canoagem. Com um caiaque emprestado de um amigo, desde então passou a remar horas e horas no Lago do Barreiro, mas como não tinha um acompanhamento técnico e nem condições de ter o seu próprio caiaque ou canoa devido ao alto preço, ele decidiu deixar a paracanoagem de lado. Em um dia de fisioterapia conheceu Thiago Mota, que também é cadeirante. Durante a conversa Thiago perguntou se Victor não se interessava pela natação. No primeiro momento ele recuou, mas mesmo assim foi conhecer a rotina de treinos de Thiago e o trabalho realizado pelo treinador Diego Rafael.
Decidido a fazer uma aula experimental acompanhado do pai, conheceu a estrutura e como aquilo poderia ajudá-lo a levantar sua autoestima. Ao término da aula, ele foi até o vestiário, e sozinho com os olhos brilhando, sentiu que ali era seu lugar. “Eu consegui dizer para mim mesmo: cara, você vai ser um atleta de natação; fica firme. Foca nisso, que a natação será um divisor de águas na sua vida”, confessa Victor. Daí em diante ele nunca mais parou, e toda a empolgação aumentou, pois com apenas dois dias de aula já era possível identificar uma boa técnica e desenvoltura dentro das águas. Sua primeira competição foi nos Jogos Paralímpicos Universitários 2016, realizados em São Paulo. Disputou três provas e conquistou três medalhas de ouro. Com o bom desempenho, passou a contar com patrocinadores, participando de mais competições, conquistando ainda mais reconhecimento.
Focado e com força de vontade, Victor não se vê fora das águas. “Hoje, se tenho algum problema, se estou estressado e quero relaxar, é a natação que me proporciona isso; quando estou nas águas tenho apenas um objetivo: me superar a cada dia. Hoje, só tenho a agradecer a todos aqueles que me apoiam: minha mãe, meu pai, meus irmãos, que nunca desistiram de mim e sempre estiveram ao me lado. E aqueles que acreditam em mim, como a Mergulho Sport Center, Strong Suplementação Especializada, DNA Club, Reval Atacado e Papelaria e o Gustavo Barber Shop. Sem vocês eu não conseguiria alcançar meus objetivos e me tornar o atleta que sou hoje”, diz Victor. O garoto que veio dos gramados e hoje vive dentro das águas busca a cada dia uma nova vitória e sempre com pessoas especiais ao seu lado.