O panorama é recorrente no continente: militares interferem para depor ditadores ou dinastias longevas. Mas, em geral, a tomada de poder não resulta na prometida estabilidade política. Nos últimos três anos, oito países africanos, todos ex-colônias francesas, sofreram golpes de Estado.
No Chade, em 2021, uma junta militar interveio para assegurar a governança do general Mahamat Idriss Deby, após a morte do pai, Idriss, que governava o país há três décadas.
No Mali, um grupo de coronéis depôs o presidente Ibrahim Boubacar Keita e, após enfrentar protestos populares, cedeu o poder a um governo civil de transição, derrubado por um segundo golpe militar.
O Níger era considerado uma espécie de oásis pelo Ocidente, parceiro no combate ao terrorismo promovido por jihadistas islâmicos, e recebeu vultuosa ajuda financeira dos EUA e da França.
Em julho passado, contudo, soldados prenderam o presidente Mohamed Bazoum em casa e instalaram uma junta militar para governar o país. O líder golpista, general Abdourahamane Tchiani, prometeu devolver o Níger a um governo civil em três anos.
Os sucessivos golpes em países que foram colonizados pela França expressam também uma disputa entre Ocidente e Rússia pela influência na África e o ressentimento contra a ex-colônia por apoiar alguns desses regimes.
No Níger, o presidente e aliado do Ocidente era, por outro lado, tachado de marionete. A tomada de poder foi seguida por protestos populares e ataques à embaixada francesa. Em Burkina Faso, o governo militar que depôs em janeiro de 2022 o presidente Roch Kabore encerrou um acordo que permitia às tropas francesas operarem no país.
Assim, a raiva popular contra o legado colonial da França foi atribuída como um fator encorajador para que os militares agissem e a usassem como justificativa aos golpes em série promovidos nesses países.