Em meio à tensão gerada pela tarifa de 50% dos Estados Unidos contra o Brasil, a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) expressou preocupação sobre a contaminação do ambiente político na economia brasileira.
Para passar por cima da situação, a entidade ressalta reformas estruturais, segurança jurídica e um ambiente político que permita pensar no médio e longo prazo.
“É preciso que alguém diga o óbvio: a economia não pode continuar sendo refém de narrativas políticas que alimentam extremos e paralisam decisões”, pontua em manifesto publicado na terça-feira (15).
A entidade observa que o Brasil perde a confiança do setor privado, a previsibilidade regulatória e a estabilidade institucional ao mergulhar neste cenário.
“Enquanto o Brasil real tenta recuperar sua economia, atrair investimentos, abrir mercados e gerar empregos, a política nacional insiste em girar em torno de uma pauta estéril, paralisante, marcada por radicalismos ideológicos e antinacionais”, disse a confederação.
Para a CNA, a reação ao tarifaço escancarou essa realidade, avaliando a carta de Donald Trump ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como “um gesto simbólico, mas que reverberou nas instituições brasileiras e criou novo ruído na imagem do país no exterior”.
Na última quarta-feira (9), Trump postou em suas redes sociais o documento endereçado a Lula, no qual anuncia a elevação da alíquota sobre os importados do Brasil. O texto abre com uma defesa ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e atribui a taxação à postura do Judiciário e Executivo brasileiros sobre o último mandatário e as big techs.
Tanto o governo como o STF (Supremo Tribunal Federal) têm essas pautas como indiscutíveis e bateram na tecla da soberania do país, não aceitando interferência dos EUA nos assuntos.
“O Brasil, que deveria estar consolidando sua posição como fornecedor estratégico de alimentos, energia limpa e minerais críticos, volta às manchetes internacionais não por suas oportunidades, mas por suas ‘crises políticas pessoais’ internas”, diz a CNA, que atribui responsabilidade da crise aos Três Poderes.
“O Congresso Nacional, pressionado por suas bases políticas, perde tempo em disputas e manobras que têm pouco a ver com os interesses econômicos do país. O Judiciário, por seu turno, também tem sido envolvido em um protagonismo institucional que, embora muitas vezes necessário, alimenta uma instabilidade constante. E o governo atual é muito culpado também. Em vez de assumir a liderança de uma agenda pragmática e pacificadora, optou por reabrir feridas políticas, reforçando antagonismos e muitas vezes tratando adversários como inimigos.”
Foto: Marcelo Camargo – Agência Brasil
Fonte: João Nakamura, da CNN, em São Paulo